MEU PAI, GIGANTE QUE ENCOLHEU
Marly Renault Adib Bittencourt
Meu pai encolheu e foi de repente
Engraçado! Meu pai era um gigante!
Comecei até a desconfiar que ele fosse o gigante da história de Guliver ou da Galinha dos ovos de ouro. Não que ele fosse tão bravo assim, mas ele era muito, muito grande.
Às vezes eu chegava a imaginar que ele era maior que um poste ou uma árvore.
Quando ia passear comigo e minha irmã ele pegava na nossa mão. Uma de cada lado. Que sacrifício! É que tínhamos que correr pra acompanhar seus passos: Tum...tum...tum... e eu corria...corria para ficar juntinho dele: um passo, dez passos, um passo, dez passos...
Ufa ! Como era cansativo!
Mas o legal era quando ele levantava os braços e nós andávamos batendo os pés no ar, caminhando nas nuvens, quase que na mesma altura dele.
Ah! Quando era pra subir um degrau ele contava: um, dois e três...Lá íamos nós parar do outro lado! Aquilo sim é que era vôo!
E quando ele resolvia nos colocar no seu pescoço pra passear? Era um pouquinho cada uma. Eu e minha irmã até brigávamos pra ficar mais tempo lá no alto. Parecia que a gente estava no céu. O chão firme ficava longe, longe...
E os seus sapatos? De vez em quando eu calçava aquele sapatão e tinha que fazer muita força pra levantar uma perna e depois outra. Ele tinha pés de dinossauro.
Mas... de repente ele diminuiu. Fui achando que ele encolheu. Um passo, três passos, um passo, dois passos, um passo, um passo, dois passos um passo...
Antigamente o coração do meu pai gigante ficava longe, longe fazendo um barulhinho bem baixinho: dum...dum...dum...dum...
Ele era um gigante de coração pequeno, pensava enquanto caminhava ao seu lado.
Agora ele encolheu e eu escuto seu coração bem forte:
DUM... DUM... DUM...DUM...
Hoje ele é pequeno de coração gigante.
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